sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A Interrupção Voluntária da Gravidez

Infelizmente, em pleno séc. XXI, existe um acto inqualificável de atentado contra os direitos humanos que, inacreditavelmente, se verifica cada vez com maior expressão a nível mundial. É o caso da nova lei da interrupção voluntária da gravidez, um autêntico atentado contra a vida humana, uma falta de respeito por nós mesmos. Quando não se é capaz de respeitar este direito, como é que vamos respeitar todos os outros?


Compreendo perfeitamente o drama das mulheres que se deparam com situações de desespero, tais como: violações, malformações graves do feto, entre outras. Nestes casos, embora se lamente e seja repugnante para a dignidade humana, ainda se tolera tal acto. Mas por amor de DEUS, não me venham dizer que a mulher não consegue decidir num prazo inferior a 10 semanas, se quer seguir com a gravidez ou não!

Claro que existe uma excepção bem fundada, como é o caso das mulheres que correm perigo de vida se continuarem com a gestação, deparando-se com a situação mais triste que pode acontecer a uma mulher. Neste caso, é perfeitamente justificável que a gravidez seja interrompida, independentemente do tempo de gestação, caso contrário estaríamos a combater um atentado cometendo outro.

Desde quando o direito à vida é questionável?

Nesta matéria fica ainda um reparo aos governantes que cobardemente lavaram as mãos e submeteram a referendo um assunto que nunca, em qualquer circunstância, poderia ser equacionado.

O direito à vida não é questionável! Por várias vezes coloquei-me na posição de quem defende esta atrocidade, mas chego sempre à mesma conclusão! Todo o argumento que não estava já salvaguardado na anterior lei, cai por terra, não tendo fundamento nem justificação. Até porque, alegações tais como: falta de condições financeiras, imaturidade para cuidar de crianças, casos em que as mães dizem ser jovens demais temendo por isso hipotecar o seu futuro, bem como outras argumentações que até se compreendem e sensibilizam, mas que só por si não justificam o acto, não fazem qualquer tipo de sentido. Outra desculpa que se proclama, é a de que as mulheres eram forçadas a fazer interrupções voluntárias da gravidez em clínicas não medicamente assistidas, grande parte das vezes em Espanha. Eu pergunto: mas eram forçadas por quem, se a nossa lei já lhes permitia o direito ao aborto nos casos em que realmente havia fundamento?

Perante a lei que foi aprovada no referendo, toda a mulher que decida não prosseguir com a gestação do feto, ainda que este seja perfeitamente saudável, poderá faze-lo, desde que o faça num prazo inferior a 12 semanas. E mais, imaginemos uma rapariga ou uma mulher que não quer ter o filho que carrega, alegando simplesmente que lhe vai causar grandes incómodos, mesmo que isso vá contra a vontade do pai da criança, a grávida terá todo o direito de o fazer, desde que dentro do prazo aprovado! Ou seja: estamos perante uma situação, em que um ser humano decide sobre o direito de outro ser humano à sua própria vida, pelo que não resta dúvida absolutamente nenhuma, de que se trata de um atentado contra a vida de inocentes e consecutivamente contra os direitos humanos.

Eu próprio já acompanhei e senti por duas vezes o doloroso sofrimento de perder um filho. Embora tendo a minha esposa pouco tempo de gestação, vivemos a triste e atroz experiência de dois abortos espontâneos. Foram os dois momentos mais tristes da minha vida, ao assistir à angústia e ao desespero da minha esposa, chegando, inclusive, a sentir-mos esvaecer as nossas forças, porque para nós, apesar dos ainda dois meses e meio de gestação, era indiscutível que se tratava de perder um filho.

São inúmeros os casos em que estes seres, limitados pela sua fragilidade nos seus primeiros momentos de luta, vêm a sua vida ceifada por quem supostamente os deveria proteger. Incrivelmente algumas pessoas apelando-se de entendidas dizem não existir vida num feto com doze semanas de gestação!

Também não concordo em absoluto com aquelas situações em que as mulheres eram presas, por terem tomado a triste decisão de porem fim à gravidez. Mas uma coisa seria não as punir, como aliás seria na minha convicção o mais sensato, outra coisa é tornar este acto legal. É aqui que reside a maior gravidade. Fazer do direito das crianças vir ao mundo uma questão de critério, é intolerável, assim como é intolerável as pessoas se arrogarem a formular opinião contrária sobre esse direito.

Embora este tema nunca devesse ter sido referendado, uma vez que o foi, as pessoas que optaram pela abstenção, lavaram as mãos como Pilatos. Com a atitude que tomaram acabam por ser tão culpadas como aquelas que aprovaram esta nova lei. Salvo raras excepções, o ser humano é egoísta e tremendamente comodista, fazendo moldar a lei e a própria justiça em conformidade com seus interesses e comodidade. Só para termos um exemplo, há pessoas que, admitindo ser este procedimento um atentado contra a vida, ainda assim são a favor desta lei inqualificável.

Este procedimento acontece em quase tudo na vida infelizmente.

Que se comportem desta maneira, já é algo que se lamenta, agora o que não tinham era o direito de aprovar uma lei tão hedionda, como é o caso desta.

Tenho a certeza que o ser humano deu um passo atrás na sua dignidade moral, e espero sinceramente que um dia possam corrigir este grave erro.

                                                       Autoria de: João Paulo Ferreira Oliveira