quinta-feira, 22 de julho de 2010

TRABALHO CLC
REFLECÇÂO AO FILME
“HOTEL RUANDA”

Este filme, relata acontecimentos de 1994 que se passaram em Kigali, capital do Ruanda, ocorrência que ficou conhecida por, Genocídio de Ruanda. Segundo pesquisa minha na Net, esta é uma co-produção de três países: a Itália, o Reino Unido e a África do Sul.

A história leva-nos a acreditar que um homem chamado Paul Rusesabagina, foi capaz de salvar a vida de 1268 pessoas durante o genocídio. Este herói era, segundo reza a história, gerente de um Hotel, propriedade duma empresa belga. Hotel este, que viria a servir de refúgio a mais de um milhar de pessoas, aquando do aumento da tensão entre a maioria hutu e a minoria tutsi, duas etnias de um mesmo povo que ninguém sabe diferenciar uma da outra, a não ser pelos documentos, ou na falta destes, pelos nomes.

Diz-se tudo ter começado quando o presidente do Ruanda morre num atentado, após assinar um acordo de paz. Imediatamente, os hutus creditaram o crime aos guerrilheiros tutsis, dando início ao genocídio entre tutsis e hutus.

Embora com pequenas influências, Paul era, entre toda esta multidão, um simples gerente de hotel que tentava proteger sua família, mas com o decorrer do massacre, comprou favores, para proteger seus vizinhos que haviam pedido abrigo em sua casa na primeira noite de chacina.

Com o avolumar da tensão e morte de governantes, os turistas partiam, e as vítimas aumentando, procuravam abrigo e protecção neste hotel que lhes servia de refúgio enquanto as tropas dos EUA lá fizeram segurança.

Até que, abandonadas por quem supostamente as deveriam proteger, as vítimas, correndo perigo de vida, começaram a poder unicamente recorrer a Paul, que com a compra de favores dos militares e da milícia, conseguia manter o hotel a salvo.

Entretanto brota a esperança, uma brisa de humanidade envolve o hotel onde se enclausuram, ao verem surgir tropas belgas como se de anjos se trata-se. Estas infelizmente tinham uma única missão, resgatar os estrangeiros, não tendo como objectivo, interromper o massacre nem sequer a vergonha de abandonar inocentes à sua própria sorte. Sorte essa que parecia já destinada.
Com a saída dos estrangeiros do hotel, Paul enceta negociações com um General a fim de conseguir protecção policial, tentativa que se viria a tornar infrutífera.

Entretanto, encorajadas pelas forças da ONU que lhes garantia escolta, alguns dos refugiados, dos quais fazia parte a família de Paul, tentaram abandonar o hotel, mas entraram numa cilada que quase deixava Paul sem as pessoas que mais amava, devido a uma denúncia dum Hutu, funcionário no hotel.

Enfurecidos, os Hutus invadiram o hotel, determinados a exterminar todos os Tutsis e quem os protege-se.

Numa outra tentativa, e mais uma vez graças aos contactos de Paul, conseguiram as forças da ONU, escoltar algumas pessoas, valendo-lhe desta feita, terem-se cruzado com rebeldes tutsis, o que fez com que chegassem vivos até ao campo de refugiados, de onde poderiam partir para a Tanzânia.

O filme expõe constantemente os nossos sentimentos, mas ouve nele um detalhe que me arrebatou a alma, pelo que é claro, não poderia ficar indiferente. Quando a Bélgica ocupou o território do Ruanda, dividiu a população segundo características físicas: os mais altos, de pele mais clara e narizes mais finos, eram Tutsi, os restantes e maioria, os Hutu, eram considerados a classe inferior, porque era menos ocidentalizada.

Pois é precisamente aqui que reside a minha tremenda comoção, Paul é Hutu e sua mulher Tatiana é Tutsi. Pelo menos, no meio da revolta que se apoderou de mim, ao testemunhar tanta barbaridade, tanta falta de humanidade e compaixão, tanto ódio e acima de tudo tanta falta de vergonha (motivo maior da minha revolta). Como ia dizendo, pelo menos no meio de tanta desgraça, ouve uma altura em que não me contive, e senti os olhos humedecer, ao constatar que o amor, no meio de tanto ódio, consegue prevalecer, porque quando ele é forte, quando ele é verdadeiro, quando ele é AMOR, ninguém nunca o consegue matar.

É claro que este detalhe não passou de um capítulo do filme, mas fez-me pensar que na realidade, milhares de famílias Ruandesas tenham estado precisamente nesse drama, senti por isso o coração doer-me, quando por um instante me surgiu no pensamento, o drama das famílias que foram dizimadas, ou separadas, deixando em grande parte dos casos crianças órfãos.

Queria agradecer à Joana por ter passado este filme que evidenciou um drama por mim desconhecido em absoluto.

Levado pela minha não indiferença a toda esta situação, fiz algumas pesquisas na NET, ficando assim, com um conhecimento mais real da situação.

Durante cem dias, perto de um milhão de pessoas morreram baleadas, queimadas ou esquartejadas, num dos massacres mais sangrentos de todos os tempos, e a comunidade internacional, vergonhosamente pouco ou nada fez para evitar, ou pelo menos tentar interromper este genocídio.

Durante 4 meses, os extremistas Hutu mataram mais de um milhão de Tutsi, a quem chamavam baratas. Especula-se que o próprio assassinato do presidente, possa ter sido obra de extremistas Hutu para justificarem o conflito. Mas o mais grave de tudo isto, a vergonha da humanidade, foi o facto de o mundo ocidental que se considera superior, ignorar e se recusar a intervir, o que faz por vezes com que eu sinta nojo de mim mesmo, por fazer parte de uma raça que se diz humana, mas que não passa na sua maioria de pragas que dizimam o nosso mundo.

Ainda voltando ao filme, e só para que conste que aquilo que eu penso duma parte humanidade não é errado, recordo o momento em que a certa altura, um jornalista chamado Phoenix, representante de todos os que tentaram chamar a atenção do mundo para esta tragédia, confrontado por Paul responde “se as pessoas virem isto dirão, oh, meu Deus, é horrível, e continuarão a jantar”. É claro, não se referiria ele propriamente ao jantar, mas sim à indiferença que causaria na maior parte das pessoas que poderiam e deveriam por cobro a todo este horror.

Depois do Holocausto chegou-se a ouvir a frase “nunca mais”. É, talvez! Mas! Nunca mais para quem? Será que os países mais carenciados terão direito a esse mesmo nunca mais?

A comparação deste filme com A Lista de Schindler, de Steven Spielberg desperta-me a curiosidade, uma vez que também desconheço este.

Até hoje, o homem foi incapaz de aprender com a história, pelo que, não serão com certeza alguns filmes que o sensibilizaram, de todo modo, nunca é demais alertar, na esperança de que toque o coração das pessoas certas.

Contudo, os filmes valem o que valem, embora por vezes possam estar muito perto da realidade, não serão nunca o relato exacto dos acontecimentos.

Ao meditarmos bem, concluímos que, até aqui, existe um pouco da essência humana. Senão vejamos:
-Ninguém foi capaz de intervir neste drama, e 14 anos depois, note-se, 14 anos depois, produzem um filme, com o aparente intuito de alertar as pessoas, mas que na realidade tem, a meu ver, um único fim, objectivos financeiros, como é evidente! Que mais poderíamos esperar? Mas, se pelo menos quem faz este tipo de produções, tivesse a consciência de ouvir ambas as partes, (o que logicamente tenho dúvidas), então aí o mal seria menor, porque no mínimo seriam justos e todos nós seriamos conhecedores da verdade.

Durante a pesquisa que fiz na NET, descobri um relato interessantíssimo, um retrato dos acontecimentos por parte de alguém que os viveu, uma pessoa que reside actualmente no nosso país. Será com toda a certeza útil, juntar o seu testemunho ao meu trabalho, pois acredito ser este, um retrato fiel duma parte importante e vergonhosa de toda esta história. Uma coisa é certa, a ser verdade o que este Ruandês nos relata, este filme, além de denunciar uma vergonha, acaba por cometer outra!

Relatos de um Ruandês de sangue misto

(Estava presente no hotel des Milles Collines, na altura dos acontecimentos)

“Como Filme comovente é. Sem Dúvidas. Também é um muito bom produto, mas apenas isso. Eu sou Ruandês, vivo no Porto desde 1994 (tinha então 14 anos). É uma pena perceber que hollywood consegue sempre passar a ideia que quer, seja ela qual for ou de que forma. O senhor Rusesabagina, gerente do Hotel era amigo da minha família, o que fez com que quando começou a guerra nós nos refugiássemos no Hotel des Milles Collines (o hotel do filme), portanto eu estava lá, e sei que não estavam lá mais de 300 pessoas e que a maioria delas não era tutsi. Também é mentira a parte de ele abandonar a família dele para salvar os outros. Mas o mais triste nisto tudo é que o filme dá a entender que houve uma etnia que matava outra, ou que uns eram bons e outros maus. Eu tenho sangue misto, apesar de oficialmente ser hutu e perdi 16 pessoas da minha família tutsi mais 23 da minha família hutu.


E o suposto herói, por ter salvo segundo o realizador 1200 pessoas tutsi, encontra-se neste momento refugiado no Canada, fugindo das pessoas que o filme diz ter salvo. Se voltar para o Rwanda, que é uma ditadura tutsi, ele é preso. Agora parem todos um pouco e pensem...


E já agora quanto à situação no Rwanda neste momento, 13 anos depois, no fim do meu curso nas Belas Artes, voltei este natal ao País, onde vive o que sobra da família e nada mudou, Um presidente cuja etnia representa apenas 14% da população ganha as eleições com 99% dos votos, o candidato da oposição é preso, e a comunidade internacional que estava presente com observadores fala em sucesso do processo eleitoral, fala-se em democracia.”


É bem possível que este testemunho seja verdadeiro, meu DEUS! por que será que já nada disto me espanta?

Agora eu questiono:
-A ser verdade, será que alguém vai ter o atrevimento de fazer um filme sobre as falsidades relatadas por este outro filme? Lógico! Claro que não, porque os senhores que o produziram são os todos poderosos Americanos de hollywood.

Realmente, para quem não conhece já as facetas de que o ser humano é capaz, toda esta situação parecerá no mínimo surrealista.

No passado, segundo os relatos, andava um povo a dizimar outro, e agora? Se realmente é verdade que uma maioria de 86% dos Ruandeses, está a ser dirigida por um presidente que representa apenas uma minoria de 14%, onde é que está a justiça?

Infelizmente, a história da humanidade tem sido sempre assim, pelo menos desde que me conheço. Os poderosos, quando confrontados com estes momentos históricos, se não lhes convém não interferem, mas quando lhes é de grande interesse, então aí sim intervêm e por vezes até fomentam as discórdias e as guerras para depois irem armados em salvadores, quando na realidade, o que pretendem é apenas servir-se da desgraça dos outros e abocanhar tudo aquilo que não lhes pertence, chegando ao descaramento de aprisionar um povo dentro do seu próprio país.

Para terminar, dizer apenas o seguinte: lamento a desgraça deste povo, faço votos para que se entendam como um povo único que são, chegando estes rapidamente à conclusão, que é com a união deles que têm de contar, porque se hoje os Tutsis, ao que parece estão amparados por interesses, esse pilar de areias movediças, não será por certo muito seguro!

João Paulo Ferreira Oliveira



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